O olhar do adulto para as crianças

Fazer birra para comer, pirraça para tomar banho, apresentar déficit de atenção, hiperatividade ou depressão... Se seu filho possui uma dessas práticas, pense bem antes de achar que ele está sendo mal-educado ou indisciplinado. Muitas vezes, essa atitude não é só uma questão de mal comportamento, reflete, na verdade, algo muito mais profundo do que o que se manifesta no pequeno ser. Segundo Bert Hellinger, é preciso aprender a “enxergar para além da criança, pois ela é somente um sintoma do que está adoecido na família”.

“Todas as crianças são boas, assim como seus pais”.

          Bert Hellinger

Conforme explica o psicoterapeuta alemão em seu livro Olhando para a Alma das Crianças, “todas as crianças são boas, assim como seus pais”. Dessa maneira, é proposto que cada indivíduo nasce puro e bom, mas para pertencer ao sistema familiar, ele precisa usar a boa ou má consciência. Por exemplo, quando os pais falam para uma criança que é feio gritar, e todos na casa falam baixo, ela se sente mal por não pertencer à consciência daquele sistema, visto que em sua casa ninguém fala alto. Por outro lado, se o roubo é um hábito da família, ao se ter esse tipo de comportamento a criança acredita que esse é um ato normal, pois é uma ação corriqueira em seu meio familiar.

Afirmar que todas as crianças são boas significa, ainda, que elas se movimentam por amor, seja via amor que cura ou que adoece. Se a desordem no campo familiar surge quando alguém que pertence a ele é excluído, rejeitado ou esquecido, a criança se identifica com essa pessoa e por meio de seu comportamento tenta mostrar essa exclusão aos pais. De acordo com a psicóloga e consteladora Amanda Marques, é como se essa criança quisesse chamar a atenção para algo no sistema que está fora de ordem. “Com um comportamento agressivo, por exemplo, a criança não está vivendo a vidinha dela, mas vive algo por alguém que não teve o seu lugar”, frisa.

Apesar de ter um fundo genético, a maioria das doenças, hoje, também podem expor o que está em desequilíbrio no sistema familiar e a criança está nesse contexto. Segundo Amanda, muitos pais a procuram para falar sobre sintomas nesta perspectiva. Um dos casos é o de uma criança com bruxismo, que do ponto de vista psicológico representa uma raiva intensa. No entanto, esta criança não tem idade para cultivar esse tipo de sentimento. Ou seja, ela está carregando a raiva de alguém do seu campo familiar no intuito de dar luz a quem está excluído.

Dessa forma, toda vez que há um sintoma emocional ou físico é um sinal de que aquele sistema familiar não está saudável. Os filhos estão representando o que nos pais ainda não foi curado. Olhar para uma criança e pensar que ela é boa é perceber que todo movimento que ela faz não é para testar os pais ou porque é malcriada, mas sim para expor algo muito maior. A psicóloga do Núcleo de Terapias Holísticas e Sistêmicas enfatiza que o olhar do adulto para as crianças deveria ser o seguinte:

. Os pais devem entender que a criança não pode resolver nada por eles;

. que assunto de adulto é de adulto e de criança é de criança;

. que ser pai é cuidar para que a criança tenha uma vida saudável sem impedi-la de ser quem ela é.

Confira três benefícios da constelação familiar para dar luz a essas questões.

1- Desestigmatizar a criança, retirar os rótulos impostos a ela.

2- Deixar com os grandes as responsabilidades que lhes cabem e com os pequenos, hierarquicamente falando, o que é deles, tornando sua vida mais leve.

3- Fazer com que a família olhe para esse contexto de uma forma mais ampla.



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