Como a constelação vê a relação entre irmãos

Mesmo que de pais diferentes, os irmãos vêm sempre de um pai e de uma mãe em comum, em um determinado momento da vida, certo? Até aí tudo bem, mas como são vistos os laços entre irmãos pela constelação familiar?

Já falamos aqui sobre a hierarquia e aprendemos que o irmão mais velho possui mais direitos e mais deveres. Já o mais novo, menos direitos e, também, menos deveres.

Como assim?

Isso significa que quem chegou antes precisa ocupar o lugar que lhe cabe no sistema familiar e ser respeitado por isso, mesmo no caso do nascimento de gêmeos, pois um deles teve precedência.

Segundo Bert Hellinger, é pela ordem que cada filho poderá ser caracterizado. Cada um tem que estar no seu lugar, para poder exercer seus direitos e seus deveres.

No livro No centro sentimos leveza, Hellinger diz: “Quem vem primeiro deve dar mais porque também recebeu mais e quem vem depois, necessariamente, recebe mais. Entretanto, também ele, quando já tiver recebido bastante, dará aos que vierem depois. Assim, dando e tomando, todos se sujeitam à mesma ordem e seguem a mesma lei”.

Quando a ordem é respeitada, os que dão são retribuídos com os bons frutos do que eles fizeram e os que recebem ficam livres para passar adiante. Assim, a vida vai fluindo cada vez mais e melhor, diz Gabrielle Viana, terapeuta e consteladora do Constela Brasil.

Irmãos são iguais entre si

Apesar de um ter chegado antes ao mundo, é preciso entender que irmãos são iguais entre si. Ou seja, para o sistema, o primeiro não possui mais valor que o outro, apenas ocupa uma ordem diferente.

Desse modo, para que os conflitos sejam evitados, a ordem hierárquica deve ser respeitada. Se um irmão mais novo acha que tem mais direitos que o irmão mais velho, quem tem a precedência se sentirá incomodado, provocando, assim, a desarmonia.

Sobre o conflito fraterno...

Para a constelação, as brigas e discussões podem acontecer por vários motivos. Por isso, cada caso precisa ser analisado de perto para que o diagnóstico seja eficaz.

No entanto, um dos casos mais comuns diante do desentendimento entre irmãos envolve a exclusão de alguém do sistema, mesmo que seja um antepassado.

Segundo Amanda Marques, psicóloga e consteladora do Constela Brasil, é importante cada irmão estar em seu lugar para que esta relação seja saudável. “Se um irmão não é incluído, o outro tende a ocupar o seu lugar, gerando mal-estar entre eles”.

Como explica Bert Hellinger, "quando alguma pessoa é excluída, seu destino é inconscientemente assumido por membros subsequentes da família".

Assim, o reflexo da exclusão de alguém que tem direito de pertencer ao sistema pode atingir a todos e ocasionar, com ainda mais vigor, a tensão entre irmãos, que desejam honrar, ainda que inconscientemente, os familiares excluídos.

“Síndrome do gêmeo desvanecido”

Apesar de não ser muito divulgado, até por não ser de conhecimento nem mesmo da mãe, é comum as mulheres engravidarem de gêmeos, mas apenas uma criança vive.

Com um sentimento de saudade, o irmão que viveu tenta alertar, por meio de seus atos, para a possibilidade de ele ter dividido o útero da mãe com outro ser.

Este sintoma é conhecido como “Síndrome do gêmeo desvanecido”, onde um deseja manifestar a ausência do outro.

Por amor ao irmão, o gêmeo que viveu acaba trazendo para si o destino do outro, que precisa ser inserido no sistema e, assim, todos tenham uma vida mais fluida.

Nesse momento, a Lei de Pertencimento entra novamente em cena, para mostrar a necessidade de inclusão de todos que fazem parte do sistema familiar.

Cada um no seu lugar

Sobre as mamães que perdem um filho sem saber que isso aconteceu (em um aborto natural, por exemplo), é possível notar nas constelações que a mulher sente um vazio e acaba procurando no companheiro uma coisa que ele não consegue oferecer.

Ou seja, “muitas vezes esse vazio, essa dor que a mulher carrega, pode ser um aborto que não foi processado e nem identificado”, explica Gabrielle.

Assim, tanto na relação entre homem e mulher, pais e filhos e entre irmãos, todas as posições precisam ser delimitadas, para que cada um siga seu destino de forma plena.

Lealdade entre irmãos: reflexo na vida real

Outro movimento muito comum percebido no consultório é que, se algum dos irmãos carrega uma deficiência ou tem um destino mais pesado, é comum que um dos irmãos se anule, tenha uma vida paralisada, porque está em lealdade ao irmão.

Como explica a terapeuta, se a pessoa tem um irmão com síndrome de Down, por exemplo, ele acredita que não tem direito de ser feliz. Logo, boicota a própria vida, para ser leal ao irmão que veio com um destino especial.

Além disso, Gabrielle alerta para a importância da inclusão dos irmãos que são frutos de relações fora do casamento: “Eles também precisam ser incluídos no sistema, pois um dos irmãos pode sintomatizar de alguma forma o irmão que está faltando e travar ainda mais sua vida”, explica.



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